A democracia, sempre ela, é valor republicano que demanda perene cuidado, vigília e apuro, ao passo que se trata de fundamental alicerce das liberdades e do respeito ao indivíduo. Ela fez dos vassalos de outrora, cidadãos.
Mesmo de forma involuntária, para além das instituições formadas e conduzidas por agentes incompetentes e/ou mal intencionados, por vezes, é o próprio cidadão quem atenta contra esta conquista que é sua e em seu favor.
Dos principais ataques de natureza inconsciente, por parte da própria população, me causa especial preocupação a restrição dos espaços de enfrentamento do tema, de tratamento da matéria, de debate do assunto.
A exaustão para com a situação política nacional é desculpa para tudo, principalmente para justificar a extirpação da veia democrática do regime de condução do país e sua submissão ao jugo militar armado. Por sorte, e só, quando sugerida a ditadura militar, nem os próprios das Forças Armadas levam a sério tamanha tolice.
Mas há mais: a democracia vem sendo tolhida dos ambientes que ela própria é a geradora e garantidora em contradição incompreensível.
Nos veículos de comunicação, não é de hoje, cada vez menos se trata dos assuntos de efetivo interesse do país, por desinteresse da audiência que sem pudor ou remorso, deposita suas atenções explicitamente em assuntos outros como o futebol, as condições climáticas ou o trânsito. Temas, estes, aliás, que quando saem da pauta, dão lugar a uma musiquinha se nos detivermos ao rádio. Exemplo, apenas, do que podemos sem muita dificuldade, detectar em outras modalidades de meios de comunicação tradicionais.
Nas redes sociais que, em tese e em gênese, se pensava serem incrementos ao espaço democrático já parco antes, pela multiplicidade de opiniões e oportunidades infindáveis, se testemunhou o afloramento da ira verbal e, quem sabe, até física dali resultante.
No cotidiano, a pauta é proibida, ou evitada, pois quando não se acirram os ânimos ao grau da mútua desinteligência, ou verborragia ofensiva em não raras ocasiões, o propositor da temática é, no mínimo, um chato inoportuno. O senhor e senhora me julgam exagerado? Experimentem, então, invocar o assunto no churrasco familiar dominical para verem o que acontece...
As eleições que estão cada vez mais próximas, neste passo, e como de costume, darão ainda mais lugar à Copa do Mundo de futebol que, mesmo meses antes de iniciar já tem espaço maior que a escolha de presidente da República, governadores de Estados, senadores e deputados federais e estaduais em televisão, jornal, rádio, internet, cafés, esquinas da vida, mate da tardinha, e por aí vai...
E a vida decente sonhada, que só pela democracia pode ser gerada, criada e lapidada e que, por sua vez, só pela política tem como ser efetivada e materializada, então somente por políticos possível, fica sem lugar nas reflexões e conversas.
Talvez esperando pelo tempo melhorar, ou para após o horário de pico nas ruas da cidade, ou, ainda, se Deus quiser, uma final entre Brasil e Argentina.